Audiência pública debate uso de agrotóxicos e consequências para o trabalhador

Evento fez parte da programação Abril Verde 2018 e estimulou a criação do Fórum Mineiro de Combate ao Agrotóxico

Cerca de 100 pessoas participaram da Audiência Pública: Agrotóxicos, Suicídios e Doenças Ocupacionais na última quinta-feira, dia 26, na sede do Ministério Público do Trabalho (MPT). O encontro debateu questões relacionadas ao uso dos defensivos agrícolas e às doenças provocadas em trabalhadores expostos ao produto e consumidores. Coordenado pela procuradora do trabalho Elaine Noronha Nassif, o evento contou a com presença de representantes de entidades públicas e privadas envolvidas diretamente envolvidas com os temas. A audiência fez parte do calendário de atividades do Abril Verde.

Danos à saúde causados pelo uso de agrotóxico foi um dos assuntos apresentados ao público pela médica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jandira Maciel. A palestrante considera que um dos problemas para traçar um diagnóstico preciso por contaminação em função do uso de defensivos agrícolas tem relação com o registro precário dos casos nos sistemas de informação "Se o Brasil é o primeiro consumidor de agrotóxico do mundo, se nós sabemos das precárias condições de trabalho dos trabalhadores rurais, onde estão essas intoxicações? Por que exatamente elas não aparecem?", questionou.

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A professora destacou alguns dos mais importantes efeitos crônicos causados pela exposição aos defensivos, como má formação congênita, sendo que em alguns o sistema nervoso central pode ser afetado, e complicações ao desenvolvimento cognitivo de crianças, que moram em regiões agrícolas, onde a utilização dos agrotóxicos ocorre em larga escala.

A exposição de longo prazo ao produto pode ocasionar sofrimento mental, especialmente depressão, e até levar ao suicídio, conforme ainda professora relatou. Por fim, a palestrante salientou que pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior revelam que determinados tipos de câncer têm relação com o uso defensivos agrícolas.

Durante a audiência, ocorreu o lançamento do Observatório do Agrotóxico Minas Gerais por Érico da Gama Torres, da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTb). A ferramenta digital tem o objetivo de contribuir para o monitoramento da utilização de defensivos agrícolas no estado e promover a agroecologia, bem como disponibilizar informações atualizadas sobre os temas.

A programação do encontro contemplou também demais assuntos, como consumo, redução e alternativa à utilização ao uso de agrotóxico em Minas, agroecologia, autuações trabalhistas, entre outros.

Bruno Diogo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi um dos participantes da audiência. Ele faz parte do assentamento Nova Conquista, em Campo do Meio, no Sul do estado, e trabalha em uma cooperativa de camponeses da região. Ele salientou a pertinência dos temas tratados no encontro. "O evento ajudou a esclarecer que o modelo de agricultura vigente no Brasil traz problemas ambientais seríssimos e de saúde pública. As contaminações por agrotóxicos estão comprovadamente ocasionando doenças como câncer. Esse modelo tem um passivo social e econômico muito grande", opinou.

Diogo considera que o acesso aos alimentos sem agrotóxico é possível e ainda pode ser ampliado. Ele defende o fortalecimento dos espaços de comercialização desses produtos, especialmente no meio urbano.

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