Cidade de Florestal vai sediar projeto de agricultura ecológica

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A expectativa é aumentar o número de produtores e consumidores ao longo de 2019

Durante todo o ano de 2019, o município de Florestal, que fica 66 km a oeste de Belo Horizonte, vai sediar diversas iniciativas de fomento à produção familiar agroecológica. As ações de mobilização e conscientização acerca dos sistemas de cultivo de alimentos e seus impactos na saúde e no meio ambiente, bem como acerca do papel do consumidor, integram o Projeto Florestando, que será executado em quatro eixos: educação, saúde, produção e comercialização. O evento inaugural do projeto reuniu mais de 170 profissionais de Florestal no fim de dezembro, entre os quais, agricultores, professores, merendeiras, profissionais da saúde e vigilância sanitária, além de gestores públicos. 

Em breve síntese, o projeto pretende "fortalecer e ampliar a produção familiar agroecológica de alimentos em Florestal e aumentar o conhecimento da população local acerca dos impactos dos agrotóxicos e insumos químicos, ressaltando que as práticas agroecológicas são regenerativas do meio ambiente, favorecem a saúde do trabalhador rural e do consumidor, e promovem o desenvolvimento sustentável, o que não ocorre na agricultura convencional", explica a procuradora do Trabalho Advane Moreira.

No encontro inaugural do projeto, a biomédica especializada em saúde pública e toxicologia de agrotóxicos, Karen Friendrich, apresentou aos participantes um panorama do uso de agrotóxicos no Brasil e no mundo e falou das consequências para o meio ambiente e para a saúde do trabalhador e do consumidor. A especialista alertou sobre o uso, no Brasil, de substâncias já proibidas em outros países e também apresentou resultados de pesquisas científicas que associam a contaminação por agrotóxicos a doenças de pele, respiratórias, neurológicas, dos sistemas imunológico, endócrino e reprodutivo, e até ao câncer.

O projeto quer fomentar mudança de cultura, um processo que é longo e demanda diferentes iniciativas. Por isso, serão realizadas ações para sensibilizar consumidores, capacitar agentes públicos para multiplicar informações a respeito do tema nas áreas da saúde e educação, conhecer os agricultores locais e mobilizá-los em torno do tema, qualificar agricultores e oferecer assistência técnica em agroecologia, reforçar a organização coletiva dos agricultores, ampliar canais de venda e promover mudanças legislativas, explica Advane Moreira.

"Uma das ações do Florestando é voltada para ampliar o nível de informação de agricultores e consumidores para que possam escolher com mais autonomia o modo de produção que vão adotar e também o tipo de produto que desejam consumir", explicou Lucas Machado, agricultor e um dos idealizadores do projeto. O agricultor José Martins destacou o baixo consumo de produtos agroecológicos: "Gostaríamos de comercializar toda a nossa produção aqui em Florestal, mas, lamentavelmente, a procura ainda é pequena, o que nos obriga a vender para fora da cidade, como Belo Horizonte, por exemplo".

As primeiras iniciativas de produção agroecológica no Município foram implementadas no sítio das Mangueiras, do agricultor Lucas Machado, no ano de 2013. De lá para cá, outros agricultores adeririam à forma de produção afinada com os princípios da ecologia. Porém, enfrentavam insuficiência de assistência técnica e de infraestrutura para armazenamento e comercialização dos produtos, bem como a ausência de ações de sensibilização da comunidade para ampliar a adesão ao consumo desses produtos. Esse foi o ponto de partida para a união dos parceiros em torno do projeto Florestando.

O projeto Florestando é uma parceria da Associação Florestalense de Agroecologia – Aflora, da Prefeitura Municipal de Florestal, da Câmara Municipal de Florestal, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural em Minas Gerais – Emater-MG, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e do Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais.

A conversa sobre agroecologia, realizada no Espaço Cultural Rui Saraiva, em Florestal, contou com as presenças do vice-prefeito de Florestal, Paulo Roberto Martins Passos, presidente da Câmara Municipal, Wagner dos Santos Júnior, promotor de Justiça da Comarca de Pará de Minas, Delano Azevêdo Rodrigues, diretor do Câmpus Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Marco Antônio Oliveira, e do presidente da Associação Florestalence de Agroecologia, José Martins Diniz.

Conheça os quatro eixos do Projeto Florestando

As iniciativas do eixo Educação tem como foco informar, sensibilizar, capacitar e mobilizar profissionais da educação infantil e do ensino fundamental e médio com o objetivo de viabilizar a inclusão do tema Educação Alimentar e Nutricional no currículo escolar, de modo transversal. Sensibilizar e capacitar profissionais da rede pública municipal de saúde para que possam orientar sobre a prevenção de agravos à saúde decorrentes da utilização de agrotóxicos e identificá-los e tratá-los de modo adequado, é a meta do eixo Saúde.

No eixo Produção, será realizado um diagnóstico participativo rural para conhecer os agricultores familiares da localidade e mobilizá-los para a transição agroecológica. Será disponibilizada assistência técnica e capacitação mediante intercâmbios, mutirões e cursos.

Já as ações do eixo Comercialização irão objetivar uma maior absorção da produção agroecológica local dentro da própria cidade. Entre as ações previstas está a inauguração do entreposto agroecológico, onde será feita a preparação dos produtos para distribuição e também venda direta ao consumidor.

Sobre as atribuições dos parceiros - Dez iniciativas de fomento do projeto estão a cargo da Prefeitura de Florestal, dentre as quais disponibilizar área para a construção do entreposto e institucionalizar as ações de redução dos impactos do uso de agrotóxicos e de fomento à agroecologia como programa da administração municipal.

Caberá à Aflora apoiar todas as ações do projeto envolvendo os seus associados, realizando as compras e contratações necessárias com os recursos financeiros destinados ao projeto. A Câmara Municipal vai promover a institucionalização de um marco legislativo de incentivo à agroecologia, bem como apoiar todas as ações do projeto, inclusive disponibilizando assistência jurídica e itens de infraestrutura. A Emater irá assessorar tecnicamente todas as ações do projeto.

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, via Plataforma Semente, irá acompanhar a execução do projeto e avaliar as prestações de contas e resultados.

O Ministério Público do Trabalho vai destinar recursos financeiros provenientes de multas e indenizações decorrentes de suas atividades institucionais, apoiar e fiscalizar a execução do projeto e aprovar a prestação de contas

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